sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

TIPOS DE COWBELL



Muitos amigos já me perguntaram a respeito de qual cowbell (também conhecido por campana, sino de vaca e por aí vai!) adquirir no meio de tantas opções. Pra isto, é preciso saber qual é a função de cada um e para o que será usado. 


O cowbell, ou "sino de vaca" (tradução literal do inglês), "campana" (no espanhol), também pode ser entendido como uma espécie de caneca para se percutir, similar aos sinos de vaca com badalo. No caso, o cowbell que iremos falar é sem o badalo, sendo classificado, segundo o sistema Hornbostel-Sachs, como idiofone percutido de altura definida.

Como possui bastante variação, tanto de material quanto de forma e tamanho, entendê-lo no seu contexto de uso ajudará o percussionista a escolher o da sua preferência para o seu set up.


Em resumo, há 3 tipos de cowbells, usados sobretudo na música latina, de onde irá derivar depois seu uso na música pop e em outros gêneros: o chacha bell, o mambo bell e o bongo bell.
Fica evidente que esta classificação leva em consideração o contexto de uso na música latina, já que a função do primeiro é característico da condução peculiar do gênero cha cha; o segundo, é usado na produção do padrão rítmico típico dos timbales no mambo; e o terceiro, refere-se à função em que o bongueiro (quem toca bongôs) utiliza o padrão de condução no cowbell, em momentos específicos da forma de alguns gêneros latinos, como o mambo.
Basicamente, o primeiro (cha cha bell, tocado no gênero conhecido como "cha cha cha") é usado para marcar a condução contínua, em colcheia, com sonoridade mais aguda para médio, sendo portanto um cowbell menor, como poderemos ver na foto:
Cha cha bell, medindo aproximadamente 4" 1/2 (quatro polegadas e meia)
O mambo bell, utilizado nos timbales, golpeando a ponta da baqueta no corpo do cowbell, marca um padrão rítmico característico dos momentos da chamada "salsa alta" (em suma, irei me referir ao modo didático de se designar à forma em que o cantor está no refrão ou no momento entre o pregón, ou seja, o improviso, e o coro, diferentemente do que chamaremos de "salsa baixa", momento das estrofes), marcando uma mudança na dinâmica, muito importante para caracterizar o uso correto dos instrumentos na música latina, sem o qual esta perde a sua força de expressão:
Padrão rítmico usado no corpo do mambo bell com base na clave de son 3:2
Mambo bell, medindo aproximadamente 8" (oito polegadas)
O bongo bell é executado segundo o padrão de condução de tonalidade grave, em semínima, na borda da boca, alternando com padrão de "resposta" agudo no corpo do instrumento pelo bongueiro, na parte em que a música está em "salsa alta" (o bongô propriamente dito é tocado na "salsa baixa", concomitante ao timbaleiro executando o padrão de cáscara), com dinâmica bastante marcada pela condução, que sempre obedece à clave. Ou seja, ora o bongueiro está tocando o bongô, ora está tocando o bongo bell, dependendo da parte da música:
Bongo bell em sua forma tradicional, sem presilha para fixação, possuindo abertura larga, de tonalidade grave
É com base nestes 3 exemplos que outros são derivados, por exemplo, tendo versões com presilha para o bongo bell (tradicionalmente tocado segurando-o) para executar com os pés, com a ajuda de um pedal e um suporte apropriados, somente marcando as semínimas; ou tamanhos variados de cha cha bell e até de mambo bell.

Há versões híbridas, em que são misturadas características de mambo bell com bongo bell, de modo que o percussionista ou baterista que esteja interessado em um único cowbell, possa utilizá-lo com versatilidade, executando padrão de timbales em seu corpo, juntamente com a condução em semínima do bongo bell, tocado na "boca do cowbell".



Irá depender muito do que o músico deseja tocar, mas cowbells híbridos costumam ser usados para música pop e até mesmo o rock, sendo considerados cowbells "coringas"! Se mais grave ou mais agudo, dentro destas classificações, aí vai depender do gosto, estilo e intenção do músico no contexto em que tocará com outros instrumentos. Neste sentido, há também o uso, com presilhas, de conjuntos de cowbells de diferentes tonalidades, formando até mesmo escalas, semelhante a ideia do agogô (instrumento afro-brasileiro).
Espero que, com estas primeiras indicações, baseadas no pouco de experiência que pude adquirir estudando o vasto e complexo campo da música latina, o músico que esteja buscando melhores informações possa se orientar para a escolha do cowbell mais apropriado as suas intenções, sem necessariamente presumir que este artigo esgote o assunto, haja vista sua intenção mais didática do que enciclopédica. Qualquer dúvida ou discussão mais aprofundada sobre o assunto, estou à disposição.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

TROCAR A PELE DO TAMBOR: e agora, qual devo adquirir?



TROCAR A PELE DO TAMBOR: quais são os critérios que devo considerar para comprar uma boa pele para minhas congas?





Em outra ocasião, havia escrito sobre as vantagens de se adquirir peles sintéticas com relação às peles de couro animal (adoro a sonoridade do couro animal, apesar dos inconvenientes), para instrumentos padronizados e, portanto, com esta opção no mercado: poderão encontrar estes outros artigos escritos no site Mundo Percussivo.


E para instrumentos de medidas e formas não convencionais, recomendei a troca de peles de couro animal por novas, caso se desgastasse com o tempo, mas não o tratamento (que muitas vezes, acaba atrapalhando mais na hora de tocar ou estragando a pele de vez).


Gostaria de falar um pouco sobre os tipos de pele sintéticas disponíveis, mais especificamente as peles sintéticas da Remo para congas. São muito boas, mas cada uma tem o seu inconveniente: tive uma preferência peculiar pelas Fiberskyns, cujo critério passava por um fator específico, mas não determinante: a sonoridade em função de determinada linguagem de algum estilo/gênero musical, mas aí vai do gosto pessoal. Quanto à resistência desta pele, ela pode apresentar bolhas no decorrer do tempo (por ação do tempo e uso). Pra quem quer evitar este problema, opte pela Nuskyn e ponto final.


Mas há no mercado 2 modelos de cada pele (seja Nuskyn, seja Fibersyn, ou seja as novas Skyndeep) para congas: a Crimplock (Simmetry) e a Tucked. Qual é a diferença?


A diferença visual, a princípio, é que a primeira possui os aros aparentes, com a pele presa por pressão dos aros – veja figura 1.



Figura 1- Pele Remo Crimplock Fiberskyn para Conga

A segunda, sua pele dá a volta no aro, que fica disposto internamente, fazendo a sobra de pele para cima, de modo que a tensão do aro da conga com a pele não tenha possibilidade de romper a mesma, como poderão observar na figura 2.


São excelentes peles, com a vantagem da Crimplock ser adaptável a várias congas existentes no mercado com dimensões que variam um pouco do padrão convencional adotado pela Remo. Porém, o modelo Tucked oferece maior resistência para altas tensões, evidentemente porque sua estrutura é bem mais forte devido a forma como a pele é empachada, ficando presa num aro interno, com o inconveniente apenas de não se ajustar a modelos de congas fora do padrão adotado.


Figura 2 - Pele Remo Tucked Fiberskyn para Conga

Particularmente gosto da sonoridade dos tambores com pele de couro animal, de opens encorpados e slaps secos, mas as peles sintéticas também podem oferecer outro brilho ao som dos tambores, sendo sua grande vantagem variar muito pouco a afinação das peles com as mudanças climáticas. E a tendência de muitos percussionistas ao afinarem suas congas é de apertarem ao máximo para se chegar numa afinação que pinte os slaps na forma desejada. E o que acaba ocorrendo nas Crimplocks é a pele se desprender do aro, como poderá ver na fotos nas figuras 3 e 4.



Figura 3 e 4 - Pele Remo Crimplock Fiberskyn danificada.

Um outro incoveniente ocorre em algumas congas com modelos de aro confort (figura 5), ou seja, aros com forma arredondada: o aro das Crimplocks, que fica exposto, toca diretamente o metal dos aros das congas, podendo ocasionar harmônicos indesejáveis.


Figura 5 - Exemplo de aro modelo "confort", encurvado. 


Portanto, minha preferência acaba sendo pelas peles de modelo Tucked que, em contrapartida, são mais raras de se achar no Brasil, por seu uso mais restrito a modelos padronizados advindos de marcas como Latin Percussion, Toca Percussion, Tycoon Percussion, Pearl, Meinl Percussion e outras do setor que possuem seus tambores da linha profissional padronizados (requinto: 9” ¾; quinto: 11”; conga: 11” ¾; tumbadora: 12” 1/2).


Um fato interessante é que, no Brasil, há uma tendência de forçarem muito os tambores para afinações mais agudas, de forma que o requinto (aqui chamado de “quinto”) fique com a intenção do som de um timbal, por assim dizer (guardadas as devidas proporções de timbre e exagero linguístico), o que descaracteriza a origem do instrumento (seu uso, sonoridade e linguagem em países como Cuba, Venezuela, Colômbia, EUA etc). Cada lugar e cultura com sua sonoridade própria, portanto, perfeitamente justificável aqui! Mas então, para isso, o mais indicado seria o uso do modelo Tucked, que aguenta maior tensão. Ser Fiberskyn ou Nuskyn, por questão de timbre, neste caso citado do uso no Brasil, aparentemente não faria muita diferença.


Ainda sobre os modelos de congas, há ainda linhas como a Aspire e/ou Headline, mais comerciais, que possuem outras medidas e a Remo também criou series de tamanhos específicos para estas congas, que são líderes de mercado, por conta de seu preço mais acessível (geralmente, com conjunto de 10" e 11"). Bem como há outras medidas especiais, como a dita “supertumba”, bastante variável, cujo padrão adotado pelas marcas que a fabricam ficam em torno de 13” – os tambores da série Mariano, da Gon Bops, por exemplo, variam totalmente do mercado, e sua supertumba chega a 13” ¼, portanto, fora de padrão. Veja mais a respeito desta série da Gon Bops em: <http://www.gonbops.com/congas/mariano-series>.

Assim, a maior dificuldade encontrada pelo percussionista ao adquirir um determinado instrumento é ficar refém das peças de reposição que o mercado oferece, não tendo muita opção depois (isto acontece também com os bongôs).


Espero ter sido claro quanto a minha opinião que, friso, é particular e não deve ser tomada como uma norma. Há quem discorde e ache profícuo o tratamento de pele animal, por exemplo. Fica a critério de cada um, a despeito das minhas impressões sobre o assunto, mas estou sempre à disposição pra trocar figurinhas a respeito deste assunto, que ainda muita gente se enrosca na hora de comprar/trocar peles ou pensa em sua manutenção.


Referências:

De Fernando, Cássio. Tratamento de Pele Animal Versus Peles Sintéticas. Mundo Percussivo. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2013.

Gon Bops. Mariano Series Congas. Disponível em: < http://www.gonbops.com/congas/mariano-series>. Acesso em: 18 fev. 2013.

Latin Percussion. Congas. Disponível em: < http://www.lpmusic.com/en-BR/>. Acesso em: 18 fev. 2013.

Meinl Percussion. Congas. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2013.

Remo. Drumheads – World Percussion. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2013.

Tycoon Percussion. Congas. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2013.



Revisado e editado: 24 de dezembro de 2014.