A pergunta é importante. Não é raro o percussionista brasileiro se enrolar na hora de comprar pele sintética de fabricante internacional, com padrão definido, mas que não necessariamente condiz com o que entendemos como sendo o quinto aqui no Brasil. E se não estiver clara essa diferença, por extensão, as demais medidas e nomenclaturas de tambores acabam confundindo mesmo e, consequentemente, arriscamos perder dinheiro e tempo numa oportunidade de compra de seus acessórios, como é a reposição de uma pele para o tambor (saiba mais sobre isso, no artigo sobre medição de pele de tambor)
O entendimento de muitos fabricantes nacionais sobre a maneira que seriam compostos e tocados estes sets de conga aqui no Brasil, de início, apresentou certa confusão que depois se consagrou como padrão nosso.
Nas buscas de informação por estes instrumentos, costuma-se não fazer diferença entre congas e tumbadoras, embora saibamos que, em sua especificidade, de fato o são por sua dimensão, sonoridade e função. Não convém alongar, mas vale lembrar que "conga" também possui outras acepções, como por exemplo, um ritmo ou uma manifestação cultural de rua em Cuba.
Nos EUA, em Cuba, em Porto Rico, Colômbia, Venezuela, Peru e outros países, cuja cultura musical (ligada aos povos latinos, evidentemente) com as congas é anterior ao uso que se fez no Brasil, há uma característica padrão de tambores e nomenclatura que chamamos, respectivamente, de requinto (9¨ 3/4), quinto (11"), conga (11" 3/4) e tumbadora (12" 1/2) - ainda encontramos o raríssimo "ricardo", mais agudo do que o requinto, por um lado, e a chamada supertumba, mais grave do que a tumbadora (por volta de 13"), por outro. Se quisermos uma comprovação, este padrão é comprovado pelo tipo de pele que se deve adquirir, utilizando esta nomenclatura, das marcas internacionais de peles para tambores, como REMO, EVANS e outras.
Na prática, quando se diz que o percussionista conduz a música num tambor, variando num segundo ou mesmo num terceiro, quarto e assim por diante (o mestre Giovanni Hidalgo que o diga!), tomamos como base o tambor mais agudo no que se convencionou a ser conduzido ao modo de formação de banda ou orquestra, com apenas 1 percussionista, e não ao modo das tradicionais rumbas que se formavam, com a presença de 3 tamboreiros.
O vídeo abaixo ilustra a sonoridade (mais grave) do tambor (quinto - 11") que conduz a salsa, diferentemente do requinto (9" 3/4), originalmente utilizado como tambor de improviso no guaguancó e outros gêneros da música cubana (e amplamente utilizado na música brasileira até mesmo pra conduzir):
O fato é que, em resumo, na configuração de percussionistas contemporâneos (sozinhos, tocando com mais de 1 tambor), o quinto é o principal, não o requinto. Como foi dito, o quinto mede 11" e, quando nesta formação de trio, é o mais agudo dos tambores (o uso do requinto não faria sentido neste caso, já que sua função não seria de condução, como se faz com um trio de congas aplicado a bandas etc, mas sim de fraseados e improvisos do rumbeiro, num contexto muito particular desta cultura - claro que estaria livre para ser usado no contexto que fosse, mas é preciso explicar o caso em questão).
Com isso, como estes instrumentos surgiram pelo Brasil também, sob influências desta cultura latina e uso em bandas, entendeu-se que o chamado "quinto", sabido ser o mais agudo nesse contexto geral (formação de trio para bandas), era o principal. Mas ao indagar aos percussionistas caribenhos qual era afinal o seu tambor mais agudo, sem especificar sua medida (imaginando que seria o principal), foi o de 9" 3/4 que lhes foi apresentado (e com razão, mas gerou confusão), pelo padrão existente lá fora.
Portanto, tomaram "o mais agudo" como sendo realmente o mais agudo (só que era preciso contextualizar de que formação se estava a falar): o requinto dos cubanos passou a ser chamado de quinto por aqui. Está feita toda a confusão e início de uma cultura explorando a sonoridade que foi criada pelo Brasil e que explica, pelo menos em parte, o modo como a música brasileira se utilizou deste tambor, descaracterizado do seu contexto original, mas criando outros usos e costumes percussivos, bastante influenciado por outros elementos e sonoridades nesta nova composição (influenciando o desenvolvimento da "Axé music"...uma outra história...fica pra uma próxima).
É por isto que encontramos tantos percussionistas brasileiros a afinarem seus tambores de forma tão alta, ao modo dos requintos e, pela lógica, a ter seu tambor de variação (o mais grave) também acompanhando estas altas afinações.
Abraço, galera!
Cássio de Fernando
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