quinta-feira, 25 de junho de 2015

COMO MEDIR A PELE DE UM TAMBOR?



Uma questão recorrente entre os percussionistas é a maneira de se medir a pele de um tambor. Como descobrir o tamanho de pele que será preciso adquirir para um determinado tambor?
Na figura logo abaixo (figura 1), podemos ver como poderemos descobrir o local certo para medir o tamanho de uma pele.

Figura 1

Para ter melhor precisão, é preciso virar a pele para a parte interna para acharmos sua medida (como na ilustração interna com o exemplo da pele de bongô): meça o diâmetro (2 vezes o valor do raio). A indicação na cor verde é a forma correta para se medir, dentre as outras indicadas: a vermelha (ilustrando a medida tirada desde as extremidades da pele) e a azul (ilustrando a medida pela parte mais profunda da pele, sua quina).

Vou tomar a medida de uma pele de bongô LP Matador do tambor hembra (o maior). Com uma fita métrica (em centímetro), a posiciono seguindo o que está indicado em verde.

Note que a maioria das peles formam um pequeno ângulo ao percorrer sua altura: é exatamente ali (indicação em verde), na base de sua altura, mas não na extremidade da sobra da pele (indicação em vermelho), que precisaremos tomar como referência da medição.

Foi indicado, na minha medição em centímetro, um pouco menos de 22 cm. Para ser mais exato, indicou 21,9 cm (obviamente, os números que se seguem após o 9 é tão pequeno que desconsiderei). Usando um conversor de medidas (que pode ser encontrado pela web, online), o número mais próximo que achei foi 8.622...em polegada (em inglês, “inch”: 1 polegada é o mesmo que 2,54 cm). 

Veja página de um exemplo de conversor aqui:

Basta, agora, vermos a opção que há no mercado para este tipo de tambor. O fabricante (Latin Percussion) indica que a pele hembra possui 8” 5/8 (medida em polegada). Que há 8” nós já vimos através da nossa medição. Mas e quanto seria 622...em número fracionado, como costuma aparecer (11” ¾, 12” ½ etc)? Basta dividir o numerador 5 pelo denominador 8 e teremos o valor de 0,625 (bastante próximo do que precisávamos saber - 622 - portanto, indicando o valor de 21,907 - o nosso 21,9 com decímetro desconsiderado anteriormente). Assim, tiramos a prova, tendo a certeza de que é exatamente na parte indicada (verde), que se mede.

Para medir a partir do tambor (nova prova), o processo é o mesmo, como no exemplo abaixo (figura 2 - tumbadora sem o aro):

Figura 2 - tumbadora

Observando o que estaria indicado também em verde, onde devemos medir (em centímetro) e depois converter em polegada, verificamos as opções mais próximas que há disponíveis no mercado, selecionando alguns para a “prova da divisão da fração” para ver qual é o resultado mais próximo entre o que você converteu e o disponibilizado pelo fabricante (como todo fabricante de peles disponibiliza tabelas de medida e modelos, nos ajuda a identificar qual é o produto adequado a se adquirir).

O grande problema é saber qual é a inclinação que certos tambores possuem na madeira próximo da abertura superior onde vai a pele (demonstrando com geometria, com base num ângulo reto, a variação de um dos lados do triângulo retângulo é que varia a inclinação, ficando a critério de cada fabricante de tambor), o que obriga os fabricantes de pele a se adaptarem a isto, motivo pelo qual existem tipos diferentes de pele de quinto (11"), de conga (11" 3/4) e assim por diante. Veja no exemplo abaixo o triângulo retângulo formado pela inclinação do tambor, sendo o lado "C" condicionado à variação do tamanho do lado "A":

Por exemplo, A Remo disponibiliza sua pele para 11", mas há modelos diferentes indicados por D1, D2, D3, D4...estas indicações permitem saber o tipo de inclinação do tambor de determinada marca. Peles com modelos de aro empachado (tucked) são difíceis de se adaptarem a tambores que não se encaixam em suas medidas. Já as de aro "prensado" na borda da pele (crimplock), se adaptam a tambores de padrões diferentes de inclinação na madeira, se ajustando conforme a pressão da afinação devido aos veios criados na parte lateral da pele, como no exemplo de pele de modelo crimplock da próxima foto:

Espero que eu tenha ajudado sobre esta dúvida ou, pelo menos, fomentado mais a curiosidade para que saibamos um pouco melhor sobre os instrumentos que utilizamos, no caso, alguns membranofones como tumbadoras, bongôs, djembês etc.

Cássio de Fernando



sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

TIPOS DE COWBELL



Muitos amigos já me perguntaram a respeito de qual cowbell (também conhecido por campana, sino de vaca e por aí vai!) adquirir no meio de tantas opções. Pra isto, é preciso saber qual é a função de cada um e para o que será usado. 


O cowbell, ou "sino de vaca" (tradução literal do inglês), "campana" (no espanhol), também pode ser entendido como uma espécie de caneca para se percutir, similar aos sinos de vaca com badalo. No caso, o cowbell que iremos falar é sem o badalo, sendo classificado, segundo o sistema Hornbostel-Sachs, como idiofone percutido de altura definida.

Como possui bastante variação, tanto de material quanto de forma e tamanho, entendê-lo no seu contexto de uso ajudará o percussionista a escolher o da sua preferência para o seu set up.


Em resumo, há 3 tipos de cowbells, usados sobretudo na música latina, de onde irá derivar depois seu uso na música pop e em outros gêneros: o chacha bell, o mambo bell e o bongo bell.
Fica evidente que esta classificação leva em consideração o contexto de uso na música latina, já que a função do primeiro é característico da condução peculiar do gênero cha cha; o segundo, é usado na produção do padrão rítmico típico dos timbales no mambo; e o terceiro, refere-se à função em que o bongueiro (quem toca bongôs) utiliza o padrão de condução no cowbell, em momentos específicos da forma de alguns gêneros latinos, como o mambo.
Basicamente, o primeiro (cha cha bell, tocado no gênero conhecido como "cha cha cha") é usado para marcar a condução contínua, em colcheia, com sonoridade mais aguda para médio, sendo portanto um cowbell menor, como poderemos ver na foto:
Cha cha bell, medindo aproximadamente 4" 1/2 (quatro polegadas e meia)
O mambo bell, utilizado nos timbales, golpeando a ponta da baqueta no corpo do cowbell, marca um padrão rítmico característico dos momentos da chamada "salsa alta" (em suma, irei me referir ao modo didático de se designar à forma em que o cantor está no refrão ou no momento entre o pregón, ou seja, o improviso, e o coro, diferentemente do que chamaremos de "salsa baixa", momento das estrofes), marcando uma mudança na dinâmica, muito importante para caracterizar o uso correto dos instrumentos na música latina, sem o qual esta perde a sua força de expressão:
Padrão rítmico usado no corpo do mambo bell com base na clave de son 3:2
Mambo bell, medindo aproximadamente 8" (oito polegadas)
O bongo bell é executado segundo o padrão de condução de tonalidade grave, em semínima, na borda da boca, alternando com padrão de "resposta" agudo no corpo do instrumento pelo bongueiro, na parte em que a música está em "salsa alta" (o bongô propriamente dito é tocado na "salsa baixa", concomitante ao timbaleiro executando o padrão de cáscara), com dinâmica bastante marcada pela condução, que sempre obedece à clave. Ou seja, ora o bongueiro está tocando o bongô, ora está tocando o bongo bell, dependendo da parte da música:
Bongo bell em sua forma tradicional, sem presilha para fixação, possuindo abertura larga, de tonalidade grave
É com base nestes 3 exemplos que outros são derivados, por exemplo, tendo versões com presilha para o bongo bell (tradicionalmente tocado segurando-o) para executar com os pés, com a ajuda de um pedal e um suporte apropriados, somente marcando as semínimas; ou tamanhos variados de cha cha bell e até de mambo bell.

Há versões híbridas, em que são misturadas características de mambo bell com bongo bell, de modo que o percussionista ou baterista que esteja interessado em um único cowbell, possa utilizá-lo com versatilidade, executando padrão de timbales em seu corpo, juntamente com a condução em semínima do bongo bell, tocado na "boca do cowbell".



Irá depender muito do que o músico deseja tocar, mas cowbells híbridos costumam ser usados para música pop e até mesmo o rock, sendo considerados cowbells "coringas"! Se mais grave ou mais agudo, dentro destas classificações, aí vai depender do gosto, estilo e intenção do músico no contexto em que tocará com outros instrumentos. Neste sentido, há também o uso, com presilhas, de conjuntos de cowbells de diferentes tonalidades, formando até mesmo escalas, semelhante a ideia do agogô (instrumento afro-brasileiro).
Espero que, com estas primeiras indicações, baseadas no pouco de experiência que pude adquirir estudando o vasto e complexo campo da música latina, o músico que esteja buscando melhores informações possa se orientar para a escolha do cowbell mais apropriado as suas intenções, sem necessariamente presumir que este artigo esgote o assunto, haja vista sua intenção mais didática do que enciclopédica. Qualquer dúvida ou discussão mais aprofundada sobre o assunto, estou à disposição.