quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

TROCAR A PELE DO TAMBOR: e agora, qual devo adquirir?



TROCAR A PELE DO TAMBOR: quais são os critérios que devo considerar para comprar uma boa pele para minhas congas?





Em outra ocasião, havia escrito sobre as vantagens de se adquirir peles sintéticas com relação às peles de couro animal (adoro a sonoridade do couro animal, apesar dos inconvenientes), para instrumentos padronizados e, portanto, com esta opção no mercado: poderão encontrar estes outros artigos escritos no site Mundo Percussivo.


E para instrumentos de medidas e formas não convencionais, recomendei a troca de peles de couro animal por novas, caso se desgastasse com o tempo, mas não o tratamento (que muitas vezes, acaba atrapalhando mais na hora de tocar ou estragando a pele de vez).


Gostaria de falar um pouco sobre os tipos de pele sintéticas disponíveis, mais especificamente as peles sintéticas da Remo para congas. São muito boas, mas cada uma tem o seu inconveniente: tive uma preferência peculiar pelas Fiberskyns, cujo critério passava por um fator específico, mas não determinante: a sonoridade em função de determinada linguagem de algum estilo/gênero musical, mas aí vai do gosto pessoal. Quanto à resistência desta pele, ela pode apresentar bolhas no decorrer do tempo (por ação do tempo e uso). Pra quem quer evitar este problema, opte pela Nuskyn e ponto final.


Mas há no mercado 2 modelos de cada pele (seja Nuskyn, seja Fibersyn, ou seja as novas Skyndeep) para congas: a Crimplock (Simmetry) e a Tucked. Qual é a diferença?


A diferença visual, a princípio, é que a primeira possui os aros aparentes, com a pele presa por pressão dos aros – veja figura 1.



Figura 1- Pele Remo Crimplock Fiberskyn para Conga

A segunda, sua pele dá a volta no aro, que fica disposto internamente, fazendo a sobra de pele para cima, de modo que a tensão do aro da conga com a pele não tenha possibilidade de romper a mesma, como poderão observar na figura 2.


São excelentes peles, com a vantagem da Crimplock ser adaptável a várias congas existentes no mercado com dimensões que variam um pouco do padrão convencional adotado pela Remo. Porém, o modelo Tucked oferece maior resistência para altas tensões, evidentemente porque sua estrutura é bem mais forte devido a forma como a pele é empachada, ficando presa num aro interno, com o inconveniente apenas de não se ajustar a modelos de congas fora do padrão adotado.


Figura 2 - Pele Remo Tucked Fiberskyn para Conga

Particularmente gosto da sonoridade dos tambores com pele de couro animal, de opens encorpados e slaps secos, mas as peles sintéticas também podem oferecer outro brilho ao som dos tambores, sendo sua grande vantagem variar muito pouco a afinação das peles com as mudanças climáticas. E a tendência de muitos percussionistas ao afinarem suas congas é de apertarem ao máximo para se chegar numa afinação que pinte os slaps na forma desejada. E o que acaba ocorrendo nas Crimplocks é a pele se desprender do aro, como poderá ver na fotos nas figuras 3 e 4.



Figura 3 e 4 - Pele Remo Crimplock Fiberskyn danificada.

Um outro incoveniente ocorre em algumas congas com modelos de aro confort (figura 5), ou seja, aros com forma arredondada: o aro das Crimplocks, que fica exposto, toca diretamente o metal dos aros das congas, podendo ocasionar harmônicos indesejáveis.


Figura 5 - Exemplo de aro modelo "confort", encurvado. 


Portanto, minha preferência acaba sendo pelas peles de modelo Tucked que, em contrapartida, são mais raras de se achar no Brasil, por seu uso mais restrito a modelos padronizados advindos de marcas como Latin Percussion, Toca Percussion, Tycoon Percussion, Pearl, Meinl Percussion e outras do setor que possuem seus tambores da linha profissional padronizados (requinto: 9” ¾; quinto: 11”; conga: 11” ¾; tumbadora: 12” 1/2).


Um fato interessante é que, no Brasil, há uma tendência de forçarem muito os tambores para afinações mais agudas, de forma que o requinto (aqui chamado de “quinto”) fique com a intenção do som de um timbal, por assim dizer (guardadas as devidas proporções de timbre e exagero linguístico), o que descaracteriza a origem do instrumento (seu uso, sonoridade e linguagem em países como Cuba, Venezuela, Colômbia, EUA etc). Cada lugar e cultura com sua sonoridade própria, portanto, perfeitamente justificável aqui! Mas então, para isso, o mais indicado seria o uso do modelo Tucked, que aguenta maior tensão. Ser Fiberskyn ou Nuskyn, por questão de timbre, neste caso citado do uso no Brasil, aparentemente não faria muita diferença.


Ainda sobre os modelos de congas, há ainda linhas como a Aspire e/ou Headline, mais comerciais, que possuem outras medidas e a Remo também criou series de tamanhos específicos para estas congas, que são líderes de mercado, por conta de seu preço mais acessível (geralmente, com conjunto de 10" e 11"). Bem como há outras medidas especiais, como a dita “supertumba”, bastante variável, cujo padrão adotado pelas marcas que a fabricam ficam em torno de 13” – os tambores da série Mariano, da Gon Bops, por exemplo, variam totalmente do mercado, e sua supertumba chega a 13” ¼, portanto, fora de padrão. Veja mais a respeito desta série da Gon Bops em: <http://www.gonbops.com/congas/mariano-series>.

Assim, a maior dificuldade encontrada pelo percussionista ao adquirir um determinado instrumento é ficar refém das peças de reposição que o mercado oferece, não tendo muita opção depois (isto acontece também com os bongôs).


Espero ter sido claro quanto a minha opinião que, friso, é particular e não deve ser tomada como uma norma. Há quem discorde e ache profícuo o tratamento de pele animal, por exemplo. Fica a critério de cada um, a despeito das minhas impressões sobre o assunto, mas estou sempre à disposição pra trocar figurinhas a respeito deste assunto, que ainda muita gente se enrosca na hora de comprar/trocar peles ou pensa em sua manutenção.


Referências:

De Fernando, Cássio. Tratamento de Pele Animal Versus Peles Sintéticas. Mundo Percussivo. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2013.

Gon Bops. Mariano Series Congas. Disponível em: < http://www.gonbops.com/congas/mariano-series>. Acesso em: 18 fev. 2013.

Latin Percussion. Congas. Disponível em: < http://www.lpmusic.com/en-BR/>. Acesso em: 18 fev. 2013.

Meinl Percussion. Congas. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2013.

Remo. Drumheads – World Percussion. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2013.

Tycoon Percussion. Congas. Disponível em: . Acesso em: 18 fev. 2013.



Revisado e editado: 24 de dezembro de 2014.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Música cubana: "El Ritmo Pilón" (Pilão)

Por Cássio de Fernando



Dentre os ritmos apresentados no Workshop de Changuito, ministrado no Brasil em 2011, também foi mostrado o Pilón (Pilão), criado por Enrique Alberto de Jesús Bonne Castillo (em 1958), também criador da Timba cubana (juntamente com Pedro Izquierdo) e fundador do grupo “Enrique Bonne y sus tambores”. O Pilón foi popularizado pelo amigo de Enrique Bonne, o cantor Pacho Alonso Fajardo, a partir dos anos 60, através da criação do grupo “Los Bocucos” (ver sobre o grupo “Pacho Alonso y Sus Bocucos”).

Abaixo, temos o vídeo “Pacho Alonso – Rico Pilon” (1965), que ilustra o gênero Pilón:


Veja também o vídeo “A Bailar Pilón com mi pana Pacho Alonso” da canção “El Pilón de Maria Cristina” (1965):


Changuito faz os movimentos característicos do uso de um pilão, que poderão observar através do vídeo sobre o Workshop ministrado no Conservatório Dramático Musical de Tatuí, em 2011.


Culturalmente, a primeira hipótese do surgimento deste gênero (dito como “ritmo”) refere-se ao pilão como utensílio também utilizado em Cuba, como parte da moagem do café. A segunda hipótese seria a ligação com elementos dos rituais religiosos da Santeria, trazidos da África.
Mas, a dúvida pode ser esclarecida com base na entrevista que Enrique Bonne deu ao editorial do Salsa Power (por Rafael Lam – website que reúne informações sobre Salsa). Bonne explica o embrião do surgimento deste ritmo, vinculado à primeira hipótese dita acima:
Comienza la gestación del Pilón; la idea me viene mientras observaba la manera en que machucaban el café con el pilón (como si fuera un movimiento danzario-rítmico). Se trata de un tronco ahuecado, donde los granos de café sueltan la melaza. Repito, ese fue el embrión, porque se populariza en 1965 con Pacho Alonso en La Habana. Aclaro que Pacho compuso una obra llamada Rico pilón, pero no es el creador del pilón. (LAM, 2008 – grifo do autor)

Bonne ainda explica que o primeiro Pilón que compôs foi “Mujeres no lloren”, com interpretação de Matías Tabío, e comenta as características do Pilón, inspirado nos costumes de seu contexto tradicional, para esclarecer o entendimento musical dos toques típicos deste ritmo, da seguinte forma:
El pilón no depende de un golpe, es todo un concepto, un andamiaje musical donde el piano imita la sonoridad del órgano oriental, la paila con el golpe de pilón pilando café, las tumbadoras y el bajo tiene su propio golpe. (Ibidem)

Enrique Bonne nasceu na antiga província de Oriente, hoje Santiago de Cuba, e vive no município de San Luis (19 km de Santiago de Cuba), atualmente com a idade de 86 anos.


Referência: