Por Cássio de Fernando
É sabido que o gênero musical conhecido por danzón (proveniente da contradança crioulla, esta conhecida também em Madrid por habanera) nasceu em Cuba, no ano de 1879, e seu criador foi o maestro matancero Miguel Ramón Demetrio Faílde y Pérez, na forma de uma velha contradança trazida da Europa e sintetizada por elementos rítmicos africanos. É neste sentido que podemos dizer que a música cubana mistura em sua raíz o popular (África) e o erudito (Europa).
É sabido que o gênero musical conhecido por danzón (proveniente da contradança crioulla, esta conhecida também em Madrid por habanera) nasceu em Cuba, no ano de 1879, e seu criador foi o maestro matancero Miguel Ramón Demetrio Faílde y Pérez, na forma de uma velha contradança trazida da Europa e sintetizada por elementos rítmicos africanos. É neste sentido que podemos dizer que a música cubana mistura em sua raíz o popular (África) e o erudito (Europa).
Para entendermos melhor esta proveniência da contradança, vamos à história: por volta de 1791, no Haití, acontecia uma revolução de escravos nos engenhos de açúcar contra seus patrões franceses, fazendo com que muitos escravos migrassem pra Cuba, provavelmente, por meio da “Passagem de Barlavento” (Windward Passage, o estreito entre Cuba e Haití), chegando na antiga província de Oriente (atual província de Santiago de Cuba), levando consigo suas manifestações culturais, costumes e idioma.
E uma das formas culturais que chegou à Cuba foi a contradanza – tomada da contradanza inglesa adotada na França desde o século XVII, para depois ir se modificando na forma do que foi chamada de “quadrilha”. Mas eram manifestações musicais que aconteciam nos bailes (“lanceros”) que não eram facilmente assimiláveis pela população, sendo necessários contratações de maestros especializados para executar os ensaios e os shows em forma de orquestras de cordas e flauta transversal ao estilo francês (LINARES, 2009).
Depois de passado quase um século, a contradanza foi arraigada em Cuba (incluindo portanto Havana e Matanza, considerada a parte Ocidental) com suas assimilações locais - contradanza crioulla. Foi a partir do maestro Miguel Faílde que, então, tendo a contradanza como pano de fundo, criou na província de Matanza o que ele chamou de danzón.
Interpretado por instrumentos de sopro como trompete, flauta, tuba, bombardino, clarinete, por violinos e por instrumentos de percussão como os timbales - que na época eram similares aos tímpanos, só que menores, tocados por baquetas com pequenas bolas -, surgia uma orquestra típica de danzón. Mais tarde, foi acrescentado o uso de outros instrumentos de percussão como guiros e claves, bem como do piano e contrabaixo.
A primeira composição foi com a canção “Las alturas de Simpson” (1879), sendo Simpson seu bairro natal, que pode ser ouvida no seguinte vídeo:
Nas primeiras duas décadas do século XX o danzón foi se desenvolvendo em outras formas variadas (danzonete, cha cha chá e mambo) e foi perdendo sua influência para o son cubano (mais lento, nostálgico e romântico) e o son montuno (mais “fogoso”, raiz do que hoje denominamos “salsa”).
Changuito mostrará o movimento tradicional nos timbales, do que caracterizou como danzonete, no vídeo a seguir:
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Em seguida, mostra a contradanza, base do danzón tradicional, em 6/8, nos timbales:
A estrutura musical do danzón pode ser pensada como uma forma de rondó (formação estrutural popular), concebida na forma “A B – A1 C – A2 D – A3 E”, cujas partes “B, C, D e E” podem acomodar melodias de canções populares de qualquer nacionalidade (por isto, sendo facilmente assimiláveis pelo público) que se desenvolve da seguinte maneira: a parte “A” é a introdução, que depois se transforma em refrão nas outras partes (estribilho que vai se repetindo); a parte “B” é o desenrolar do primeiro tema; “A1” sendo a primeira função da parte A como refrão; a parte “C” é o desenrolar do segundo tema; “A2” sendo o segundo refrão; a parte “D”, terceiro tema (aparece ocasionalmente); sendo assim, a parte “A3” é o terceiro e último refrão, que se encaminha para um último tema, na parte “E”, sendo este a resolução do rondó. Há versões de danzón que o andamento do último refrão é ligeiramente acelerado para desembocar num montuno final (com a resolução do rondó indo até a parte "D", não se estendendo até a "E"), como é o caso do vídeo a seguir, do curso de danzón do maestro mexicano Carlos Aguilar González, analisando o danzón "Palmira", de Mario Alvarez e do mexicano Rafael de Paz (1943, p. 828):
Reveja o vídeo da canção "Las alturas de Simpson". Poderão notar que a música (iniciada por anacruse), é composta por uma introdução de 16 compassos, em 2/2. Ao término da primeira parte (parte "A") de 16 compassos na métrica referida, inicia-se a segunda parte (parte "B"), e assim por diante, sendo cada parte do rondó também nesta configuração até o final da música.
Com o tempo, o danzón foi se adaptando e hoje se toca de outra forma. Segundo o relato de Jose Luis Quintana (Changuito), com o uso de outros instrumentos como guiro, uma conga, trio de violinos, flauta, baixo, cello, piano, trata-se de uma formação orquestral conhecida como charanga:
Portanto, é de fundamental importância o conhecimento da história da música latina para o entendimento do que se faz hoje por nome de "salsa" (termo cunhado em Nova Iorque), situando o músico e/ou pessoa interessada em conhecer melhor a riqueza dos ritmos caribenhos que, pouco a pouco, vai conquistando seu espaço também no Brasil e é fonte de pesquisa e usos inclusive na Educação Musical por meio da música popular destes povos de história parecida com a nossa.
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Fontes:
Fonte 1: Mapa
da Passagem de Barlavento (Windward Passage) – Cuba-Haití: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Windwardpassagemap.JPG
Vídeo de
Changuito. La historia del Songo. DCI Music Video.
GONZÁLEZ,
Maestro Carlos Aguilar. Vídeo Curso de Danzón. 2ª parte. 2009.
OROVIO, Helio. Vídeo “Las alturas de
Simpson - Miguel Failde”: fotocópia da partitura do Diccionario
de la Musica, 1 ed. [s/d]. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=ND18y1gkzGk>. Acesso
em: 04 jul. 2012.
Referências
DIAZ-AYALA, Cristobal. El Danzón. Encyclopedic Discography of Cuban Music. v. 1. Flórida, EUA. 2006. Disponível em: <http://latinpop.fiu.edu/IV%20El%20danzon.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2012.
LINARES, Annia. Origem e história do danzón. Foro Univision. 2009. Disponível em: <http://foro.univision.com/t5/Annia-Linares/ORIGEN-E-HISTORIA-DE-EL-DANZON/td-p/337811467#axzz1zf3xhZSH>. Acesso em: 04 jul. 2012.
LINARES, Armando. Qué es el Danzón? Documentário, Havana, Cuba. 1998.
QUINTANA, Jose Luis “Changuito”. Workshop de música latina. Tatuí: Conservatório dramático musical de Tatuí “Dr. Carlos de Campos”, 2011.
SIERRA, Carlos Justo. Pérez Prado y el Mambo. 1 ed. México: Ediciones de la Muralla, 1995.
THE LIBRARY OF CONGRESS - Copyright Office. Musical Compositions – Part 3: "Palmira". n.5, v. 38. Whashington, EUA: Government Printing Office, 1943. (Catalog of Copryright Entries).
Fontes:
Fonte 1: Mapa
da Passagem de Barlavento (Windward Passage) – Cuba-Haití: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Windwardpassagemap.JPG
Vídeo de
Changuito. La historia del Songo. DCI Music Video.
GONZÁLEZ,
Maestro Carlos Aguilar. Vídeo Curso de Danzón. 2ª parte. 2009.
OROVIO, Helio. Vídeo “Las alturas de
Simpson - Miguel Failde”: fotocópia da partitura do Diccionario
de la Musica, 1 ed. [s/d]. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=ND18y1gkzGk>. Acesso
em: 04 jul. 2012.