terça-feira, 10 de novembro de 2020

Configuração de tambores: afinal, é requinto ou quinto? Conga é o mesmo que tumbadora? Existe supertumba?

A pergunta é importante, pois não é raro o percussionista brasileiro se enrolar na hora de comprar pele sintética de fabricante internacional, com padrão definido, mas que não necessariamente condiz com o que entendemos como sendo o quinto aqui no Brasil. E se não está claro, por extensão, as demais medidas e nomenclaturas de tambores acabam confundindo mesmo.




O entendimento de muitos fabricantes nacionais sobre a maneira que seriam compostos e tocados estes sets de conga aqui no Brasil, de início, apresentou certa confusão que depois se consagrou como padrão nosso.

Nas buscas de informação por estes instrumentos, costuma-se não fazer diferença entre congas e tumbadoras, embora saibamos que, em sua especificidade, de fato o são por sua dimensão, sonoridade e função. Não convém alongar, mas vale lembrar que "conga" também possui outras acepções, como por exemplo, um ritmo ou uma manifestação cultural de rua em Cuba.

Nos EUA, em Cuba, em Porto Rico, Colômbia, Venezuela, Peru e outros países, cuja cultura musical (ligada aos povos latinos, evidentemente) com as congas é anterior ao uso que se fez no Brasil, há uma característica padrão de tambores e nomenclatura que chamamos, respectivamente, de requinto (9¨ 3/4), quinto (11"), conga (11" 3/4) e tumbadora (12" 1/2) - ainda encontramos o raríssimo "ricardo", mais agudo do que o requinto, por um lado, e a chamada supertumba, mais grave do que a tumbadora (por volta de 13"), por outro. Se quisermos uma comprovação, este padrão é comprovado pelo tipo de pele que se deve adquirir, utilizando esta nomenclatura, das marcas internacionais de peles para tambores, como REMO, EVANS e outras.

Na prática, quando se diz que o percussionista conduz a música num tambor, variando num segundo ou mesmo num terceiro, quarto e assim por diante (o mestre Giovanni Hidalgo que o diga!), tomamos como base o tambor mais agudo no que se convencionou a ser conduzido ao modo de formação de banda ou orquestra, com apenas 1 percussionista, e não ao modo das tradicionais rumbas que se formavam, com a presença de 3 tamboreiros.

O vídeo abaixo ilustra a sonoridade (mais grave) do tambor (quinto - 11") que conduz a salsa, diferentemente do requinto (9" 3/4), originalmente utilizado como tambor de improviso no guaguancó e outros gêneros da música cubana (e amplamente utilizado na música brasileira até mesmo pra conduzir):



O fato é que, em resumo, na configuração de percussionistas contemporâneos (sozinhos, tocando com mais de 1 tambor), o quinto é o principal, não o requinto. Como foi dito, o quinto mede 11" e, quando nesta formação de trio, é o mais agudo dos tambores (o uso do requinto não faria sentido neste caso, já que sua função não seria de condução, como se faz com um trio de congas aplicado a bandas etc, mas sim de fraseados e improvisos do rumbeiro, num contexto muito particular desta cultura - claro que estaria livre para ser usado no contexto que fosse, mas é preciso explicar o caso em questão).

Com isso, como estes instrumentos surgiram pelo Brasil também, sob influências desta cultura latina e uso em bandas, entendeu-se que o chamado "quinto", sabido ser o mais agudo nesse contexto geral (formação de trio para bandas), era o principal. Mas ao indagar aos percussionistas caribenhos qual era afinal o seu tambor mais agudo, sem especificar sua medida (imaginando que seria o principal), foi o de 9" 3/4 que lhes foi apresentado (e com razão, mas gerou confusão), pelo padrão existente lá fora.
Portanto, tomaram "o mais agudo" como sendo realmente o mais agudo (só que era preciso contextualizar de que formação se estava a falar): o requinto dos cubanos passou a ser chamado de quinto por aqui. Está feita toda a confusão e início de uma cultura explorando a sonoridade que foi criada pelo Brasil e que explica, pelo menos em parte, o modo como a música brasileira se utilizou deste tambor, descaracterizado do seu contexto original, mas criando outros usos e costumes percussivos, bastante influenciado por outros elementos e sonoridades nesta nova composição (influenciando o desenvolvimento da "Axé music"...uma outra história...fica pra uma próxima).

É por isto que encontramos tantos percussionistas brasileiros a afinarem seus tambores de forma tão alta, ao modo dos requintos e, pela lógica, a ter seu tambor de variação (o mais grave) também acompanhando estas altas afinações.
Abraço, galera!
Cássio de Fernando

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Procurando um cajón?



Sempre tive a convicção de que todo percussionista geral precisa ter um set mínimo no qual não poderia faltar congas e bongô, blocos sonoros e cowbells, além de efeitos (de carrilhão e pratos até molhos de vários tipos), shake e meia-lua, dentre outros que, numa maior ou menor proporção, completam o que irá precisar dependendo do tipo de projeto. No mais, o que for somado será lucro (como acrescentar timbales, djembê, efeitos
 específicos etc).


No entanto, há um instrumento que reputo como sendo um "coringa" no cabedal do percussionista e que não necessariamente está contido neste set minimamente "obrigatório", já que pode ser feita uma apresentação musical inteira somente tocando ele: o cajón!

Isto porque, atualmente, o cajón não faz a função que costumava ser feita quando do seu nascimento (seja como marcador, seja como repicador - ambos sem som de caixa -, pois tinham função de tambores, como as tumbadoras no contexto afrocubano, ou tambores semelhantes no contexto do desenvolvimento da cultura afroperuana, remontando à prática cultural ancestral africana). No caso da costa peruana, por exemplo, na falta dos típicos tambores africanos em época colonial, escravos improvisavam em caixas utilizadas para transporte de mercadorias e assim foi sendo construída uma história com um novo instrumento que foi se desenvolvendo e ganhando novas feições conforme os usos e novos contextos, se espalhando pelo mundo (como na música espanhola, com o flamenco, introduzido por Paco de Lucia).

Com o desenvolvimento da bateria no século XX, uma adaptação aos novos tempos na história da música popular, o cajón passou a ser pensado também de outra forma (não só como função de tambor), como outra possibilidade de uso, levando em conta o som de caixa de bateria e de bumbo, simulando sua essência, seja com esteiras, seja com bordões ou outros artifícios. Dessa forma, busca-se vários elementos para se reconhecer um bom cajón hoje, dentre os quais, na minha modesta visão, o equilíbrio entre esses dois instrumentos completamente distintos num único instrumento que possa simulá-los.


E como não misturar o som de caixa com o de bumbo (há os que gostam da mistura, alegando um certo "brilho" no grave)? Particularmente, busco o cajón que acentua a separação. E foi com este critério que experimentei diversos cajóns, nacionais e internacionais, levando em conta:

1 - som mais parecido possível com o de caixa;
2 - som de caixa sem excesso de harmônico na esteira ou bordão;
3 - som mais parecido possível com o de bumbo;
4 - a não mistura do som do bumbo com a esteira/bordão da caixa;
5 - o local (o mais acima possível) adequado do toque do bumbo, de modo a não precisar inclinar o corpo;
6 - uma altura adequada para que não houvesse sensação de "formigamento" na perna pelo tempo de permanecer sentado.


Ser inclinado ou reto, acústico ou com captação elétrica, ou ainda, se tocado sentado ou no próprio colo, não eram prioridade pra mim. Buscava um cajón com capacidade de simular uma bateria e, com isto, ser versátil para um acompanhamento numa proposta de apresentação mais acústica num show.


Tive vários cajóns bons também, testei outros tantos (importados e nacionais), mas ainda procurava algum que unisse todos os critérios (frisa-se, bastante subjetivo, sendo um gosto de cada um), até testar um cajón um pouco mais baixo que o padrão, que estava perto de grandes marcas já consagradas no mercado, no mostruário de uma loja de música em Araraquara-SP. 

Estava comprando outros equipamentos e não pensava em comprar cajón algum naquele momento, pois já possuía 2 em casa e precisava economizar (quem nunca?!).

Mas aquele cajón foi como achar o Herbie (o famoso fusca "53"), vindo de Lambari-MG. Apaixonado pelo som e pelo conforto nos toques, muito bem feito, era o que procurava. Tive que comprar!

Trata-se de um Cajon ES 37 Inclinado, de compensado, com captação eletroacústica da Allê Cajón.

Click para Allê Cajón

Hoje, possuo tanto o meu "Herbie" inclinado como um reto da nova linha marchetiada e com acento estofado, uma obra de arte: o Cajon CAJ 001 Reto Marchetiado, desenvolvido com madeira maçiça de pinhus tratado e cedrinho vermelho! Um dos melhores cajóns que tive a oportunidade de tocar, de alto padrão. Quem experimentar, vai entender.

Fábrica da Allê Cajón - Lambari-MG

Parabéns a Allê Cajón pelo excelente instrumento e rápida expansão pelo Brasil, pois está sendo de fácil aceitação por sua qualidade, num mercado até mesmo saturado por tantos exemplares. E no meio de tantos, escolhi o Allê.