Sempre tive a convicção de que todo percussionista geral precisa ter um set mínimo no qual não poderia faltar congas e bongô, blocos sonoros e cowbells, além de efeitos (de carrilhão e pratos até molhos de vários tipos), shake e meia-lua, dentre outros que, numa maior ou menor proporção, completam o que irá precisar dependendo do tipo de projeto. No mais, o que for somado será lucro (como acrescentar timbales, djembê, efeitos específicos etc).
No entanto, há um instrumento que reputo como sendo um "coringa" no cabedal do percussionista e que não necessariamente está contido neste set minimamente "obrigatório", já que pode ser feita uma apresentação musical inteira somente tocando ele: o cajón!
Isto porque, atualmente, o cajón não faz a função que costumava ser feita quando do seu nascimento (seja como marcador, seja como repicador - ambos sem som de caixa -, pois tinham função de tambores, como as tumbadoras no contexto afrocubano, ou tambores semelhantes no contexto do desenvolvimento da cultura afroperuana, remontando à prática cultural ancestral africana). No caso da costa peruana, por exemplo, na falta dos típicos tambores africanos em época colonial, escravos improvisavam em caixas utilizadas para transporte de mercadorias e assim foi sendo construída uma história com um novo instrumento que foi se desenvolvendo e ganhando novas feições conforme os usos e novos contextos, se espalhando pelo mundo (como na música espanhola, com o flamenco, introduzido por Paco de Lucia).
Com o desenvolvimento da bateria no século XX, uma adaptação aos novos tempos na história da música popular, o cajón passou a ser pensado também de outra forma (não só como função de tambor), como outra possibilidade de uso, levando em conta o som de caixa de bateria e de bumbo, simulando sua essência, seja com esteiras, seja com bordões ou outros artifícios. Dessa forma, busca-se vários elementos para se reconhecer um bom cajón hoje, dentre os quais, na minha modesta visão, o equilíbrio entre esses dois instrumentos completamente distintos num único instrumento que possa simulá-los.
E como não misturar o som de caixa com o de bumbo (há os que gostam da mistura, alegando um certo "brilho" no grave)? Particularmente, busco o cajón que acentua a separação. E foi com este critério que experimentei diversos cajóns, nacionais e internacionais, levando em conta:
1 - som mais parecido possível com o de caixa;
2 - som de caixa sem excesso de harmônico na esteira ou bordão;
3 - som mais parecido possível com o de bumbo;
4 - a não mistura do som do bumbo com a esteira/bordão da caixa;
5 - o local (o mais acima possível) adequado do toque do bumbo, de modo a não precisar inclinar o corpo;
6 - uma altura adequada para que não houvesse sensação de "formigamento" na perna pelo tempo de permanecer sentado.
Ser inclinado ou reto, acústico ou com captação elétrica, ou ainda, se tocado sentado ou no próprio colo, não eram prioridade pra mim. Buscava um cajón com capacidade de simular uma bateria e, com isto, ser versátil para um acompanhamento numa proposta de apresentação mais acústica num show.
Tive vários cajóns bons também, testei outros tantos (importados e nacionais), mas ainda procurava algum que unisse todos os critérios (frisa-se, bastante subjetivo, sendo um gosto de cada um), até testar um cajón um pouco mais baixo que o padrão, que estava perto de grandes marcas já consagradas no mercado, no mostruário de uma loja de música em Araraquara-SP.
Estava comprando outros equipamentos e não pensava em comprar cajón algum naquele momento, pois já possuía 2 em casa e precisava economizar (quem nunca?!).
Mas aquele cajón foi como achar o Herbie (o famoso fusca "53"), vindo de Lambari-MG. Apaixonado pelo som e pelo conforto nos toques, muito bem feito, era o que procurava. Tive que comprar!
Trata-se de um Cajon ES 37 Inclinado, de compensado, com captação eletroacústica da Allê Cajón.
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Hoje, possuo tanto o meu "Herbie" inclinado como um reto da nova linha marchetiada e com acento estofado, uma obra de arte: o Cajon CAJ 001 Reto Marchetiado, desenvolvido com madeira maçiça de pinhus tratado e cedrinho vermelho! Um dos melhores cajóns que tive a oportunidade de tocar, de alto padrão. Quem experimentar, vai entender.
Parabéns a Allê Cajón pelo excelente instrumento e rápida expansão pelo Brasil, pois está sendo de fácil aceitação por sua qualidade, num mercado até mesmo saturado por tantos exemplares. E no meio de tantos, escolhi o Allê.