quarta-feira, 11 de julho de 2012

Música cubana: "El Ritmo Pilón" (Pilão)

Por Cássio de Fernando



Dentre os ritmos apresentados no Workshop de Changuito, ministrado no Brasil em 2011, também foi mostrado o Pilón (Pilão), criado por Enrique Alberto de Jesús Bonne Castillo (em 1958), também criador da Timba cubana (juntamente com Pedro Izquierdo) e fundador do grupo “Enrique Bonne y sus tambores”. O Pilón foi popularizado pelo amigo de Enrique Bonne, o cantor Pacho Alonso Fajardo, a partir dos anos 60, através da criação do grupo “Los Bocucos” (ver sobre o grupo “Pacho Alonso y Sus Bocucos”).

Abaixo, temos o vídeo “Pacho Alonso – Rico Pilon” (1965), que ilustra o gênero Pilón:


Veja também o vídeo “A Bailar Pilón com mi pana Pacho Alonso” da canção “El Pilón de Maria Cristina” (1965):


Changuito faz os movimentos característicos do uso de um pilão, que poderão observar através do vídeo sobre o Workshop ministrado no Conservatório Dramático Musical de Tatuí, em 2011.


Culturalmente, a primeira hipótese do surgimento deste gênero (dito como “ritmo”) refere-se ao pilão como utensílio também utilizado em Cuba, como parte da moagem do café. A segunda hipótese seria a ligação com elementos dos rituais religiosos da Santeria, trazidos da África.
Mas, a dúvida pode ser esclarecida com base na entrevista que Enrique Bonne deu ao editorial do Salsa Power (por Rafael Lam – website que reúne informações sobre Salsa). Bonne explica o embrião do surgimento deste ritmo, vinculado à primeira hipótese dita acima:
Comienza la gestación del Pilón; la idea me viene mientras observaba la manera en que machucaban el café con el pilón (como si fuera un movimiento danzario-rítmico). Se trata de un tronco ahuecado, donde los granos de café sueltan la melaza. Repito, ese fue el embrión, porque se populariza en 1965 con Pacho Alonso en La Habana. Aclaro que Pacho compuso una obra llamada Rico pilón, pero no es el creador del pilón. (LAM, 2008 – grifo do autor)

Bonne ainda explica que o primeiro Pilón que compôs foi “Mujeres no lloren”, com interpretação de Matías Tabío, e comenta as características do Pilón, inspirado nos costumes de seu contexto tradicional, para esclarecer o entendimento musical dos toques típicos deste ritmo, da seguinte forma:
El pilón no depende de un golpe, es todo un concepto, un andamiaje musical donde el piano imita la sonoridad del órgano oriental, la paila con el golpe de pilón pilando café, las tumbadoras y el bajo tiene su propio golpe. (Ibidem)

Enrique Bonne nasceu na antiga província de Oriente, hoje Santiago de Cuba, e vive no município de San Luis (19 km de Santiago de Cuba), atualmente com a idade de 86 anos.


Referência:

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Breve história das raízes da Salsa: o danzón

Por Cássio de Fernando


É sabido que o gênero musical conhecido por danzón (proveniente da contradança crioulla, esta conhecida também em Madrid por habanera) nasceu em Cuba, no ano de 1879, e seu criador foi o maestro matancero Miguel Ramón Demetrio Faílde y Pérez, na forma de uma velha contradança trazida da Europa e sintetizada por elementos rítmicos africanos. É neste sentido que podemos dizer que a música cubana mistura em sua raíz o popular (África) e o erudito (Europa).

Fonte 1


Para entendermos melhor esta proveniência da contradança, vamos à história: por volta de 1791, no Haití, acontecia uma revolução de escravos nos engenhos de açúcar contra seus patrões franceses, fazendo com que muitos escravos migrassem pra Cuba, provavelmente, por meio da “Passagem de Barlavento” (Windward Passage, o estreito entre Cuba e Haití), chegando na antiga província de Oriente (atual província de Santiago de Cuba), levando consigo suas manifestações culturais, costumes e idioma.
E uma das formas culturais que chegou à Cuba foi a contradanza – tomada da contradanza inglesa adotada na França desde o século XVII, para depois ir se modificando na forma do que foi chamada de “quadrilha”. Mas eram manifestações musicais que aconteciam nos bailes (“lanceros”) que não eram facilmente assimiláveis pela população, sendo necessários contratações de maestros especializados para executar os ensaios e os shows em forma de orquestras de cordas e flauta transversal ao estilo francês (LINARES, 2009).

Depois de passado quase um século, a contradanza foi arraigada em Cuba (incluindo portanto Havana e Matanza, considerada a parte Ocidental) com suas assimilações locais - contradanza crioulla. Foi a partir do maestro Miguel Faílde que, então, tendo a contradanza como pano de fundo, criou na província de Matanza o que ele chamou de danzón.

Interpretado por instrumentos de sopro como trompete, flauta, tuba, bombardino, clarinete, por violinos e por instrumentos de percussão como os timbales - que na época eram similares aos tímpanos, só que menores, tocados por baquetas com pequenas bolas -, surgia uma orquestra típica de danzón. Mais tarde, foi acrescentado o uso de outros instrumentos de percussão como guiros e claves, bem como do piano e contrabaixo.

A primeira composição foi com a canção “Las alturas de Simpson” (1879), sendo Simpson seu bairro natal, que pode ser ouvida no seguinte vídeo: 


Nas primeiras duas décadas do século XX o danzón foi se desenvolvendo em outras formas variadas (danzonetecha cha chá e mambo) e foi perdendo sua influência para o son cubano (mais lento, nostálgico e romântico) e o son montuno (mais “fogoso”, raiz do que hoje denominamos “salsa”).
Changuito mostrará o movimento tradicional nos timbales, do que caracterizou como danzonete, no vídeo a seguir:
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Em seguida, mostra a contradanza, base do danzón tradicional, em 6/8, nos timbales:


A estrutura musical do danzón pode ser pensada como uma forma de rondó (formação estrutural popular), concebida na forma “A B – AC – AD – AE”, cujas partes “B, C, D e E” podem acomodar melodias de canções populares de qualquer nacionalidade (por isto, sendo facilmente assimiláveis pelo público) que se desenvolve da seguinte maneira: a parte “A” é a introdução, que depois se transforma em refrão nas outras partes (estribilho que vai se repetindo); a parte “B” é o desenrolar do primeiro tema; “A1” sendo a primeira função da parte A como refrão; a parte “C” é o desenrolar do segundo tema; “A2” sendo o segundo refrão; a parte “D”, terceiro tema (aparece ocasionalmente); sendo assim, a parte “A3” é o terceiro e último refrão, que se encaminha para um último tema, na parte “E”, sendo este a resolução do rondó. Há versões de danzón que o andamento do último refrão é ligeiramente acelerado para desembocar num montuno final (com a resolução do rondó indo até a parte "D", não se estendendo até a "E"), como é o caso do vídeo a seguir, do curso de danzón do maestro mexicano Carlos Aguilar González, analisando o danzón "Palmira", de Mario Alvarez e do mexicano Rafael de Paz (1943, p. 828):


Reveja o vídeo da canção "Las alturas de Simpson". Poderão notar que a música (iniciada por anacruse), é composta por uma introdução de 16 compassos, em 2/2. Ao término da primeira parte (parte "A") de 16 compassos na métrica referida, inicia-se a segunda parte (parte "B"), e assim por diante, sendo cada parte do rondó também nesta configuração até o final da música.

Com o tempo, o danzón foi se adaptando e hoje se toca de outra forma. Segundo o relato de Jose Luis Quintana (Changuito), com o uso de outros instrumentos como guiro, uma conga, trio de violinos, flauta, baixo, cello, piano, trata-se de uma formação orquestral conhecida como charanga:



Portanto, é de fundamental importância o conhecimento da história da música latina para o entendimento do que se faz hoje por nome de "salsa" (termo cunhado em Nova Iorque), situando o músico e/ou pessoa interessada em conhecer melhor a riqueza dos ritmos caribenhos que, pouco a pouco, vai conquistando seu espaço também no Brasil e é fonte de pesquisa e usos inclusive na Educação Musical por meio da música popular destes povos de história parecida com a nossa.
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Fontes:

Fonte 1: Mapa da Passagem de Barlavento (Windward Passage) – Cuba-Haití: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Windwardpassagemap.JPG
Vídeo de Changuito. La historia del Songo. DCI Music Video.
GONZÁLEZ, Maestro Carlos Aguilar. Vídeo Curso de Danzón. 2ª parte. 2009.
OROVIO, Helio. Vídeo “Las alturas de Simpson -  Miguel Failde”: fotocópia da partitura do Diccionario de la Musica, 1 ed. [s/d]. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=ND18y1gkzGk>. Acesso em: 04 jul. 2012.

Referências
DIAZ-AYALA, Cristobal. El Danzón. Encyclopedic Discography of Cuban Music. v. 1. Flórida, EUA. 2006. Disponível em: <http://latinpop.fiu.edu/IV%20El%20danzon.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2012.
LINARES, Annia. Origem e história do danzón. Foro Univision. 2009. Disponível em: <http://foro.univision.com/t5/Annia-Linares/ORIGEN-E-HISTORIA-DE-EL-DANZON/td-p/337811467#axzz1zf3xhZSH>. Acesso em: 04 jul. 2012.
LINARES, Armando. Qué es el Danzón? Documentário, Havana, Cuba. 1998.
QUINTANA, Jose Luis “Changuito”. Workshop de música latinaTatuí: Conservatório dramático musical de Tatuí “Dr. Carlos de Campos”, 2011. 
SIERRA, Carlos Justo. Pérez Prado y el Mambo. 1 ed. México: Ediciones de la Muralla, 1995.
THE LIBRARY OF CONGRESS - Copyright Office.   Musical Compositions – Part 3: "Palmira".  n.5, v. 38. Whashington, EUA: Government Printing Office, 1943. (Catalog of Copryright Entries).

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Changuito e música cubana: "rumba"

No final de 2011, aconteceu na cidade de Tatuí, interior do Estado de São Paulo, o 5º Encontro Internacional de Percussão, que trouxe no rol de convidados nada menos do que Changuito (José Luis Quintana Fuentes), que nos mostrou um pouco da história de alguns ritmos cubanos, como o Danzón, o Paka, Guaguancó, Columbia e o ritmo desenvolvido por ele, o Songo, dentre outros.



A RUMBA

Sempre falamos sobre rumba nos shows, em workshops, e tivemos a oportunidade de aprender um pouco mais sobre ela na ocasião do Encontro. Muitos usam este termo popularmente conhecido, mas não são todos que sabem ao certo sua diferença com relação aos outros ritmos, como o cha cha cha, o mambo, ou danzón etc.

Tem sua ligação com o Son cubano, por exemplo, mas é fundamentalmente diferente também por conta das respectivas claves (chave - células rítmicas que dão a característica de um e outro gênero).


O que chamamos de rumba, termo usado tanto para designar um gênero de dança cubana quanto para nos referirmos à música que se faz popular em Cuba, é um termo genérico que engloba uma variedade de ritmos. Sua influência vem dos negros trazidos pelos espanhóis, principalmente de Guiné, Crioulla, Congo, Quimbundo, dentre outros locais da África no século XVI.

Após a abolição no século XIX, conta-se que os negros que parmaneceram nas periferias das províncias de Havana e Matanzas, em busca de emprego, acabaram desenvolvendo esta mistura com os descendentes de espanhóis, propiciando o surgimento da rumba cubana (cujo termo, proveniente da Europa, denotava "festa").

Ela é composta pelos seguintes gêneros fundamentais: a Conga (festejos em blocos, como no carnaval), o Yambú (mais lento e tradicional, geralmente dançado pelos mais velhos), o Guaguancó (mais conhecida rumba, possui sensualidade na dança, que dá a sugestão de um ritual de conquista entre homem e mulher, onde a mulher se insinua, mas não se deixa levar pelos artifícios e malícias gesticulados na dança pelo homem) e a Columbia (mais acelerada, dançada predominantemente por mais jovens, muitas vezes até com performances mais ousadas).

No vídeo mais abaixo, com execução dos participantes do workshop, um pouco de Guaguancó e da Columbia sob orientação de Changuito:


Referências:



Um pouco mais do que foi o workshop de Changuito, seguido da clínica, acompanhado da competente banda de Tatuí (consta no vídeo o nome de todos):





Por Cássio de Fernando (www.cassiodefernando.com.br)